Tenho
revisto algumas obras literárias das quais li em anos anteriores. Nessa minha
busca espiritual, o que tem chamado a atenção é a loucura. Essa personagem
tratada como indigna, tem sido companheira de poetas e escritores ao longo dos
séculos. Podemos citar o Elogio da
Loucura de Erasmo de Rotterdam, Quincas
Borba de Machado de Assis, entre outros. Mas quem mais tem chamado minha
atenção é o ‘Cavaleiro da Triste Figura’, Dom
Quixote de La Mancha de Miguel de Cervantes Saavedra.
Não me proponho
aqui à crítica literária dessa monumental obra, até porque ainda me sinto
pequeno, para algo que necessitaria anos de estudo a fio, mas que perderia a
essência da obra em nome do maniqueísmo acadêmico. Não, proponho algo que
talvez apareça enquanto escrevo essas humildes linhas digitais, até porque o
papel tem perdido cada vez mais importância – sorte das árvores.
Mas saindo
dessa linha digressionista, e tentando voltar o foco em nosso aclamado
personagem criado por nosso não menos aclamado escritor; retornemos ao que
queremos entender, saber, compreender ou simplesmente como dizem alguns,
consumir os escritos e o entendimento, ainda que eu ache que o que escrevo
dificilmente seria digerido por um estômago capitalista, via que não tenho a sustância
necessária para mercado, nem pessoas minimamente dispostas a ler qualquer
fragmento, pois a imbecilidade está na ordem do dia.
Voltemos
ao ‘Cavaleiro da Triste Figura’, este ser que tem atravessado séculos no
inconsciente coletivo, que tem desafiado gigantes em forma de moinho, que tem
lutado em nome dos fracos e oprimidos – ainda que estes últimos acabem sendo mais
oprimidos ainda, depois de suas ações cavalheirescas. Mas não esqueçamos que
ali está a consciência quixotesca, seu bravo e rechonchudo Sancho Pança, a
razão que alimenta a loucura de seu mestre, e que dá respostas inexatas. Temo
aqui o casamento do id e do ego, e o superego, dane-se.
Nada
como a loucura como dar asas a liberdade, ainda que o leve a morte como Ícaro e
suas asas de cera criada por seu pai, Dédalo. Mas Quijada (ou Quesada),
resolveu voar em seu “alazão errante”, assim foi com Rocinante, de tão triste
figura quanto seu dono esquelético. Eis que desta não foram as fúrias a
atormenta-lhe. Fora nada mais que seu intelecto ávido por literatura
cavalheiresca, que o levara a enlouquecer.
Dom
Quixote se deu o direito de enlouquecer. Armou-se de ideais irreais e se
colocou a luta por eles, fatigado leitor. Ainda embarcou em seus devaneios, o
bom e simples Sancho que nada mais alimentava a loucura do mestre. Eis o grande
feito de Erasmo, a grande loucura que grita por liberdade. Como águas
represadas que quando libertas, surge com força violenta, destrutiva,
devastadora. É como a turba revolucionária da Revolução Francesa. É o domínio das
paixões aprisionadas buscando ensejo para satisfazer seus desejos.
Nada
mais aprisiona o homem que os tempos atuais. O direito a loucura é trocado por
engenharias sociais onde cada indivíduo (aqui no termo realmente
individualista) é apenas mais um componente na complexa engrenagem do sistema.
Dom Quixote
foi banido do mundo moderno, não apenas sua história, a literatura refinada de
Cervantes, mas seu espírito aventureiro, desprogramado o como queira, porra
louca. Somo programados desde nascer, ensinando a amar segundo a ordem, beber e
comer segundo a ordem, viver e se programar segundo a ordem. Estamos presos em
uma prisão sem muros.
Nunca alguém
gozou de tanta autonomia quanto o Louco de La Mancha, ou ao menos, foi tão
longe por devaneios insanos. Mesmo o amor, amor de uma donzela inexistente,
Dulcinéia Del Tolboso, fora a mais
sincera e plena. No limiar do que consideramos loucura é onde surgem os mais
belos versos de uma poesia.
Assim, vamos
em nome dos sonhos enfrentar nossos gigantes, ainda que em forma de moinhos. Que o Cavaleiro da Triste Figura seja nossa constante inspiração.
P.s: texto em forma bruta, sem correção, esta deverá ser feita mais tarde.